Pesquisa da FGV com 80 maiores companhias revela que o setor vai ampliar em 14,6% os negócios em 2010, enquanto o PIB cresce 7%Márcia De Chiara – O Estado de S.Paulo
Impulsionado pela abundante oferta de crédito de longo prazo, com parcelamento que chega a dois anos, e pelo crescimento do emprego e da renda no mercado interno, o setor de turismo vai crescer neste ano num ritmo acelerado, que é o dobro do projetado para o Produto Interno Bruto (PIB).
Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com as 80 principais companhias do setor no País revela que a expectativa é de que o volume de negócios ligados ao turismo aumente, em média, 14,6% este ano em relação a 2009. Em igual período, o PIB deve crescer cerca de 7%.
“A taxa de crescimento do turismo será recorde neste ano”, afirma o ministro do Turismo, Luiz Barretto, ponderando que a atividade ainda responde por pequena fatia do PIB, 2,8%, mas tem potencial enorme de crescimento. Além das melhores condições econômicas do País, ele ressalta que eventos importantes vão acelerar o volume de negócios, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas.
A pesquisa, feita a pedido do ministério e que consultou nove segmentos do turismo, de empresas de transporte aéreo a locadoras de automóveis e hotéis, mostra que, no geral, 92% das companhias esperam neste ano crescimento nas vendas em relação a 2009, 7% estabilidade e apenas 1% queda.
Os segmentos que projetam os maiores acréscimos nos volumes de negócios são empresas aéreas (21,2%), operadoras de viagem (18,3%), turismo receptivo, que inclui bares e restaurantes (17,9%) e locadoras de automóveis (15%). Segundo a enquete, três desses quatro segmentos projetam os maiores reajustes de preços para o período.
Só no primeiro semestre, o volume de desembarques aéreos domésticos cresceu cerca 30% na comparação com igual período de 2009, nas contas do ministro. Isso mostra que, com mais dinheiro e o câmbio favorável – na sexta-feira, o dólar fechou cotado a R$ 1,76, o menor nível em dois meses -, o brasileiro está tomando gosto pelas viagens, Depois de estrear nos cruzeiros na temporada de verão, eles estão fazendo hoje a primeira viagem ao exterior. O destino é a vizinha Argentina, observa Barretto, pela proximidade geográfica e semelhança da língua.
Tango. “Eu sempre gostei de tango”, disse o aposentado Paulo Zanatto, de 84 anos, que embarcou na última quinta-feira com as filhas, o genro e os netos, para Buenos Aires. É a sua primeira viagem de avião e também a primeira vez que vai para fora do País.
“Quando a economia vai bem, as pessoas fazem turismo”, afirma o diretor de Assuntos Internacionais da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Leonel Rossi Júnior. De acordo com o executivo, hoje a nova classe média responde por 7% das vendas do setor.
“Nos últimos 5 anos, 30 milhões de brasileiros entraram para o mercado de consumo. Nos próximos 5 anos, irão ingressar mais 40 milhões, quase uma Espanha inteira”, prevê Valter Patriani, presidente da CVC Turismo, maior operadora das Américas. De olho nesse potencial para vendas de pacotes turísticos, a empresa acaba de inaugurar uma loja em Boa Vista, Roraima, o último Estado onde a companhia não estava presente.
Para este mês, a CVC está com a maior oferta de pacotes em períodos de férias, desde a fundação da empresa, há 38 anos. Entre viagens aéreas, rodoviárias e cruzeiros internacionais, serão cerca de 280 mil lugares nesta temporada. Junto com o volume recorde de ofertas estão as promoções, com descontos que chegam 30%. “Só vende porque tem promoção”, diz Patriani.
Além do corte no preço, o parcelamento impulsiona o crescimento. A Caixa Econômica Federal, o banco que mais financia o setor, tem um cartão de crédito específico para o turista. O parcelamento do pagamento dos gastos relacionados, da passagem à entrada ao parque temático, pode ser quitado em 24 meses. Isso significa que o turista leva dois períodos consecutivos de férias para se ver livre da dívida.
Fábio Lenza, vice-presidente de Pessoa Física da Caixa, diz que hoje há 1,6 milhão de cartões de crédito para turismo e o limite soma R$ 900 milhões. “Até dezembro, a meta é ter 1,8 milhão de cartões e o limite de crédito deve chegar a R$ 1 bilhão”, prevê. Ele conta que neste ano, cresceu 21% o uso do cartão em relação a 2009 e o valor médio das transações também aumentou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário