Consumo moderado de vinho melhora raciocínio
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
Felipe Reis/Folhapress
Beber moderadamente faz bem pra cabeça. Ainda mais se for vinho, diz estudo feito ao longo de sete anos com 5.033 homens e mulheres em Tromso, norte da Noruega.
Bebedores moderados de vinho apresentam desempenho cognitivo superior ao dos que bebem pouco ou nada
Quem bebia de forma moderada --quatro ou mais vezes em duas semanas-- foi melhor em testes medindo funções cognitivas do que os totalmente abstêmios ou que bebiam pouco --uma vez ou menos no mesmo período.
A média de idade dessas pessoas era de 58 anos. O estudo foi publicado na revista médica "Acta Neurologica Scandinavica" por Kjell Arne Arntzen, da Universidade de Tromso, e mais três colegas.
Os autores admitem que a conclusão pode ter tido influência de fatores não testados, como dieta e profissão.
Em compensação, o estudo controlou idade, educação, peso e doenças.
Em mulheres, o fato de não beber esteve associado a desempenho cognitivo "significativamente" mais baixo.
"O maior risco de função cognitiva pobre esteve em abstêmios. Entre homens, resultados sugerem menos disfunção cognitiva em consumidores de vinho e cerveja", escreveram Arntzen e cia.
Os autores anotavam só a frequência do consumo, não a quantidade, por isso afirmam que as diferenças entre homens e mulheres podem estar ligadas a diferentes níveis de consumo.
Para R. Curtis Ellison, do Centro Médico da Universidade de Boston, esses resultados confirmam outros: "A associação entre consumo moderado de álcool e função cognitiva foi investigada em 68 estudos".
Além do melhor desempenho cognitivo, o álcool em doses discretas ajudou a reduzir o risco de demência, tanto a vascular quanto a doença de Alzheimer.
Não há consenso sobre o que pode causar o efeito benéfico do consumo de álcool. Pode ser a presença de antioxidantes como os polifenóis; ou o próprio álcool etílico fortaleceria as artérias e reduziria inflamações, o que melhoraria o fluxo de sangue.
Os testes cognitivos envolviam memória verbal de curto prazo, escala de inteligência Wechsler e teste psicomotor. Como esperado, os índices foram menores para mais velhos, menos educados, fumantes, deprimidos, diabéticos e hipertensos.
"Um maior nível de evidência seria uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados", comenta o médico Rubens Baptista Júnior, professor de metodologia científica e coordenador de pós-graduação em Gestão de Saúde do Senac-SP.
"Não estou questionando o estudo, mas ele é um elemento que tem que se juntar a muitos outros para tirar essa conclusão, um cuidado que todo cientista deve ter. Há muitos fatores que precisam ser isolados", afirma Baptista. "Não é por que existem correlações que elas são causais", diz o médico, também professor na Escola de Educação Permanente do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da USP.
Os próprios autores revelaram preocupações com a metodologia. "Um efeito positivo do vinho pode ser devido a fatores de confusão como status socioeconômico e hábitos alimentares e de outros estilos de vida mais favoráveis", escreveram.
É provável que bebedores de vinho tenham uma dieta mais saudável do que tomadores de cerveja e destilados.
O consumo médio, no estudo, foi de um copo em 14 dias para mulheres e três copos para os homens.
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