sábado, 17 de abril de 2010

Nação,Região,Cidadania:A Construção das Cozinhas Regionais no Projeto Nacional Brasileiro



Vai aqui uma dica de um artigo que achei interessante: "Nação,Região,Cidadania:A Construção das Cozinhas Regionais no Projeto Nacional Brasileiro", de Rogéria Campos de Almeida Dutra.

A autora procura fazer uma análise do papel que as cozinhas regionais desempenharam na formação do iderário de nação brasileira. Para Rogéria, "O processo histórico de construção da identidade nacional fundamenta-se na conciliação entre a unidade territorial e a diversidade regional,onde as cozinhas regionais atuam como operadores distintivos que qualificam a riqueza nacional. " (DUTRA, p. 18)

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Os primeiros parágrafos do artigo "Nação,Região,Cidadania:A Construção das Cozinhas Regionais no Projeto Nacional Brasileiro"

“Somos um capítulo da história das utopias européias ”.Assim Otávio Paz (Velloso 1988:240)resume a situação colonial americana,que marca definitivamente oprocesso de construção do Brasil como nação.Afinal,a condição histórica deste território já fazia parte,em sua origem,de um fluxo hegemônico de projetos e decisões europeus.Podemos identificar na história brasileira uma relação constantemente ambígua desta realidade des-locada e todo o esforço em trazer para si o eixo de auto-definição,seja no sentido da constituição do Estado brasileiro, a organização da sociedade politicamente independente neste território;seja no processo de construção da identidade nacional. Fundamental neste processo é verificar o modo como se consolidou a noção de unidade,de poder centralizador,de homogeneidade interna e continuidade simbólica,a partir de uma noção de cultura nacional,e a atuação dos espaços regionais,com interesses específicos e expressões particulares. A conquista de uma “unidade moralmente homogênea e integrada ”,nos termos de Mauss (1972),supõe a comunhão de valores essenciais,definidores de um modo de ser,a partir dos quais se é reconhecido.Contudo,sabemos que este “compartilhar ”,mais que um dado real,é construído,elegendo-se traços significativos,relevantes à própria imagem que um grupo constrói para si e para os outros.Para tal fim,observam-se diversas estratégias,negociações,envolvendo a participação de diferentes atores sociais No processo de construção da identidade nacional,no caso brasileiro,destaca-se fortemente o fenômeno de apropriação de manifestações culturais específicas a certos grupos sociais por parte do resto da sociedade,e sua transformação em símbolos nacionais.Em diferentes momentos,observamos variadas contribuições que circulam entre a cultura popular e a erudita;e a cada momento,um tipo social faz-se seu portador legítimo,ou representativo.Como exemplos clássicos desta apropriação e sua reelaboração cultural,pode-se destacar o samba,o candomblé,a umbanda e a própria feijoada,quando as elites,num certo período da história brasileira,se apropriam e reelaboram estas manifestações,então restritas às camadas populares,como símbolo da nação.(Fry 1982; Oliven 1983,Viana 1995) Contudo,se há emblemas que se pretendem superadores de certa incomensurabilidade,interligando grupos sociais diversos,ocorre também a construção desta identidade pela composição do diverso,que não se dilui no todo.Este,ao que parece,é o percurso simbólico próprio da composição do nacional a partir das diversas regiões que compõem seu território,princípio este embutido na própria representação do federalismo, emblematizado na forma de constelação em nossa bandeira.A construção deste mosaico se dá por diversas formas,a partir de inúmeros atributos regionais.Dentre estes,podemos identificar as cozinhas regionais,que funcionam como operadores distintivos que qualificam a riqueza nacional.Interessa-me particularmente a construção da singularidade regional a partir deste complexo de alimentos específicos,seus usos e combinações que,ao que parece,destaca-se como portadoras da identidade local mais em algumas regiões do que em outras.O propósito deste texto é analisar a construção da cozinha regional na formação da identidade nacional, o que torna indispensável pensarmos o diálogo histórico entre a unidade territorial e a diversidade regional na construção do Estado Brasileiro.

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