sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A GASTRONOMIA FRANCESA: DA IDADE MÉDIA ÀS NOVAS TENDÊNCIAS CULINÁRIAS



A GASTRONOMIA FRANCESA: DA IDADE MÉDIA ÀS NOVAS TENDÊNCIAS CULINÁRIAS

Carlos Roberto Antunes dos Santos
DEHIS/SCHLA/UFPR

Falar da gastronomia na França, do ponto de vista do historiador, significa buscar suas origens, explicar a sua reputação, destacar as relações que ela mantém com as diversas produções alimentares inter-regionais e transnacionais e as suas tendências diante das novas culinárias hoje presentes, como a cozinha molecular.

A indiscutível supremacia da cozinha francesa através da História Moderna e Contemporânea nos leva às suas origens medievais, e à sua definição como a fusão de três elementos indispensáveis: a riqueza de ingredientes; a sabedoria na maneira de utilizá-los e o requinte nos mínimos detalhes. Com charme e versatilidade incontestáveis, quer falando da Cozinha Clássica ou da Nouvelle Cuisine, a gastronomia francesa é responsavel pelas inúmeras outras cozinhas que nela se espelharam e estão espalhadas pelo mundo, bem como das formas de fazer da cozinha e da mesa verdadeiras artes.

A partir deste enunciado, podemos interrogar a gastronomia francesa, em termos de História da Alimentação, a partir de quatro questões: 1. Desde quando esta reputação gastronômica, da qual os franceses sempre se orgulharam, nasceu? 2. Como esta reputação gastronômica se mantém até hoje? 3. Porque ela aconteceu na França? 4. Qual o comportamento da cozinha francesa diante da gastronomia molecular, principalmente a dos espanhóis?

Geralmente a idéia que se tem da Idade Média é aquela de cavaleiros brutais rasgando a dentada a caça ainda quente e a sangrar, os camponeses vivendo permanentemente com fome, os monges gordos de grandes barrigas que vivem só a comer; cozinheiros ignorantes trabalhando com instrumentos primitivos. Esta é a idéia que se tem da alimentação medieval,
isto é, tempos bárbaros que só podem corresponder a cozinhas bárbaras. Isso é uma visão já ultrapassada, pois os documentos de séculos atrás, nos revelam que os camponeses da Alta Idade Média (sécs. V ao X), salvo em tempos de acidentes climáticos, comiam de acordo com a fome que tinham e, muitas vezes melhor que os camponeses do séc. XVII (Era Moderna). E, entre as elites, desenvolveu-se nesta época medieval uma arte culinária, no sentido da gastronomia, que não fica nada a deverà nossa, no que diz respeito à variedade e sofisticação. É preciso considerar que a herança greco-romana (antiguidade Clássica) não foi aniquilada durante as invasões bárbaras e que permaneceu na aristocracia da Alta Idade Média, constituindo uma cozinha muito interessante.

Sendo a Idade Média uma civilização essencialmente cerealista, o pão torna-se o alimento principal, consumido na ceia, junto ao vinho. Portanto, pão e vinho são alimentos essências nesta época. Em face da importância da Igreja no cotidiano medieval, a evolução da cozinha foi lenta e progressiva, sendo que alguns alimentos foram postos de lado como os temperos de peixes (que eram largamente utilizados pelos romanos), substituídos por outras especiarias como a nozmoscada e o Cravo-da-Índia (começam a ser introduzidos na farmacopéia e depois na cozinha).

Ao longo da Idade Média opera-se uma outra modificação fundamental: a forma do corpo (o aprumo) da pessoa que come. O hábito de comer deitado da época romana é substituído pelo
hábito de comer sentado, determinado pela passagem de uma cozinha fundada nos picados e almôndegas que podiam se agarrados com as mãos, para uma outra em se priorizava o corte das carnes.

A mesa francesa medieval em certos períodos era farta, com a presença de peixes como congrios, arenques, salmões, enguias, lagostins, trutas, esturjões, empadas de Paris, tortas, pudim de ovos, queijos, castanhas, mostarda, pêras, alho, cebolas, e outros. Desta forma, na I. Média se constituiu uma arte de mesa original e requintada, uma certa gastronomia. A cozinha francesa na Idade Média é, sob certos aspectos, diferente da nossa tendo os gostos e hábitos alimentares sofridos profundas alterações. Mas essa ruptura não se deu de um dia para o outro. Importante destacar que em 1486, foi impresso o primeiro livro de culinária na França, intitulado Le Viandier com 230 receitas. Desse ponto de vista, a Renascença na França não parece ter sido um século de grandes mudanças culinárias, pois a influência medieval ainda estava muito forte e muito próxima.

A descoberta da América e do caminho marítimo para asÍndias, e a conquista espanhola da América Central trouxe novos alimentos para os europeus: tomate, pimentas, milho, batata, feijão verde, novas especiarias, temperos, peru e outros. Entretanto, a introdução destes novos alimentos na cozinha européia e especialmente a francesa, não foi algo de imediato. O uso destes alimentos manteve-se mais restrito até o séc. XVII, quando a nobreza e uma nova geração de cozinheiros demonstram claramente seus distanciamentos da cozinha gótica. A partir deste período, pode-se dizer que em França os gostos e as maneiras de comportamento á mesa (etiqueta) são renovadas. Tudo isso revela uma cozinha francesa inovadora, original, demonstrando que para os franceses a certeza que a sua forma de comer era superior a de todos os outros povos da Europa. E tal constatação é comprovada pela leva de estrangeiros que visitam a França e comprovam a superioridade francesa no domínio da cozinha e da mesa.

Ao longo do séc. XVII, a afirmação da cozinha francesa colocada acima é iniciativa da realeza sob Luis XIV, o Rei Sol. O refinamento proveniente da Corte engendra um vasto movimento de renovação dos costumes e práticas alimentares. Os cozinheiros franceses passam a privilegiar os cozimentos, deixando as carnes com o máximo de sabor, o que permitiu que se desenvolvesse em França uma produção de carne da mais alta qualidade. Junto à carne de boi se exigiu legumes frescos e de sistema de manutenção de alimentos como os peixes e frutos do
mar, isto é, oferecer sempre peixe fresco. Desta forma, a grande novidade desta cozinha do séc. XVII é privilegiar os sabores naturais dos alimentos (algo até então inédito).

O séc. XVIII viu surgir uma individualização da comida, isto é, um prato e seus talheres para cada pessoa. A mesa deixa de ter um serviço coletivo e cada pessoa terá um couvert para si. É desta época o início do uso mais freqüente do garfo, que trouxe consigo novos pratos, e novas práticas alimentares. Desta forma, a França vai rompendo com os costumes medievais aonde todos se serviam num prato comum e com as mãos. Foi ao longo do Séc. XVIII que surge os fundamentos da refeição moderna: a elegância da mesa, a etiqueta, o comportamento à mesa para comer e para beber. No séc. XVIII, a forma de dispor a comida nos pratos foi fortemente influenciada pelos acompanhamentos e com a conseqüente expulsão da ditadura do alho e da cebola: legumes, vegetais, os verdes, os temperos passam a dar cores aos pratos. Desta forma, a França promove a substituição da cozinha do olfato pela cozinha do olhar. Na verdade o Antigo regime (da realeza) ao realizar os famosos Banquetes de Estado que fizeram a fama do Palácio de Versalhes, produziu pratos que eram concebidos e apresentados de modo a realçar e divulgar grandeza da cozinha francesa. Neste período os cozinheiros franceses já eram considerados os melhores do mundo. Desta forma a realeza se vangloriava de promover a doçura do bem viver (frase de Talleyrand), que enaltecia o orgulho francês de ter a melhor cozinha do mundo.

Ainda no séc. XVIII, antes da revolução Francesa, se inventou em Paris o restaurante. Esta constatação começa por demolir a versão clássica, e reforçada, como no filme A Festa de Babette, que, segundo SEVCENKO, "vê à culinária francesa como uma das grandes conquistas da Revolução Francesa" (1). Há duas versões sobre a invenção dos restaurantes: 1. Aquela exposta por FLANDRIN & MONTANARI (2), demonstrando que M. Boulanger, também conhecido como "Champs d'Oiseaux, um padeiro e vendedor de sopas, resolveu colocar em seu estabelecimento perto do Louvre, algumas mesas a disposição a disposição dos seus clientes, que até então tomavam seus caldos restauradores em canecas e em pé. E com o aumento da clientela que passou a exigir além dos caldos restauradores, outros pratos, M. Boulanger passou a servir pratos com alimentos sólidos em porções individuais. A partir de então, ele foi seguido por outros imitadores e estava então inventado o restaurante na França, com um novo profissional o Restaurateur e um novo tipo de negócio, o Restaurante; 2. a outra versão sobre a invenção do restaurante, parte de SPANG (3) que atribui à Marthurin Roze de Chantoiseau a criação destes paraísos dos sabores. Sendo uma figura conhecida, Chantoiseau fixou residência em Paris em 1760, em plena conjuntura de crise econômica da França em face da sua dívida interna. Em Paris, a partir da fortuna herdada do pai, um rico latifundiário e mercador, Roze de Chantoiseau, após algumas tentativas de elaboração de projetos para ajudar a França a sair da sua crise, em 1765 abriu as portas do primeiro restaurante. A intenção era, através dos restaurantes, "fazer circular o dinheiro, que ajudaria a melhorar a situação econômica francesa "(4).
Após a revolução francesa, muitas pessoas que vinham a Paris buscavam estes lugares mais simples que servia uma comida também simples, mas reconfortante. Entretanto haviam chefes de cozinha desempregados, cujos patrões membros da alta nobreza, haviam fugido da revolução. Estes chefes, obrigados a encontrar uma outra maneira de realizar o seu trabalho, acabaram abrindo os seus próprios restaurantes, e tornando a cozinha artística dos grandes mestres, antes só encontrada nas residências dos ricos e poderosos, agora acessível ao grande público que pudesse pagar por ela. Nasce assim o grande restaurante em França, um produto autenticamente francês, desconhecido até então, com uma cozinha superior, um salão elegante, garçons eficientes e uma adega cuidadosa e selecionada. Tais predicados se espalharam pelo mundo, tornando a cozinha francesa famosa e respeitada. A partir daí, toda uma cultura culinária começou a florescer. Desenvolveu-se uma verdadeira "ciência da mesa", e em 1801 foi criado o termo gastronomia para designar o que Montaigne chamava de
"ciência da gula".

Para aqueles que estudam a História da Alimentação, os discursos gastronômicos evoluem em função das mutações técnicas, econômicas, estéticas, sociais e políticas, como a colonização (e o contato com outros povos), os fenômenos imigratórios, as relações internacionais, as conseqüências das guerras e hoje em dia em função da globalização. Nesse sentido, os alimentos não só alimentos, eles são atitudes, protocolos, convenções. Nenhum alimento que entra em nossas bocas é neutro. O alimento é uma categoria histórica e a formação do gosto alimentar não se dá exclusivamente por seus predicados biológicos e nutricionais.

No final do séc. XVIII, quando Napoleão chega ao poder e depois invade a Europa e o Oriente, os seus soldados portam na ponta das baionetas a obra dos direitos humanos e atrás deles seguem exércitos de cozinheiros, cabeleireiros, professores de danças: é a civilização francesa se expandindo pelo mundo. Nesta época destaca-se o cozinheiro-chefe Carême, considerado
um dos mais renomados expoentes da culinária francesa. Carême foi contemporâneo de Brilhat Savarin, famoso autor da obra "A Fisiologia do Gosto" Deve-se a Carême a invenção do vol-au-vent.

É importante destacar que os predicados da cozinha francesa são produtos da efervescência da sua história e da sua cultura. Há ainda a Geografia da França, oferecendo diversos tipos de clima e quatro fachadas marítimas. Possuiu também um império colonial rico em possibilidades agrícolas e fontes generosas de alimentos. Tudo isso estimula as trocas e influências inter-regionais e com o Exterior. De todas esta simbioses emerge a identidade nacional francesa, expressa na cozinha e na mesa francesa.

Na França os cozinheiros são respeitados, os Chefs são admirados e os Grandes Chefes são honrados tanto quanto os chefes militares. Desta forma foram cozinheiros que se tornaram
famosos como Paul Bocuse e Pierre Troigros, conceberam a nouvelle cuisine, denominação francesa para uma total renovação da culinária ligada à cultura pós-maio de 1968. Trata-se de uma nova concepção de se preparar os alimentos, usando-se, sobretudo, ingredientes frescos, de temporada, processo de cozimentos curtos, cardápios leves, evitando-se marinadas, fermentações e molhos a base de farinha, manteiga e caldos. Trata-se de uma cozinha clássica, estética e muito artística na sua apresentação.

Para compreender a cozinha francesa é preciso conhecer com que detalhes ela lida. As riquezas culinárias da Ile-de- France, com seus patês de enguia da cidade de Melum e os cogumelos e presuntos de Paris. Da Normandia vem o leite, a manteiga, a nata, os peixes do mar, as aves, os queijos em grandes variedades, os ovos, as cidras e o Calvados. Da Bretanha, vêm os mariscos, crustáceos e os peixes, sendo famosa também por seus legumes: ervilhas, repolhos, couve flor, alcachofras e cebolas. Da região da Champagne vêm a Champagne, as trutas e as caldeiradas. Da Borgonha chegam os vinhos tintos mais famosos, como o Conti Romanée e também vinhos brancos, mais os legumes, a caça abundante, os peixes de rio, o gado de primeira qualidade, as frutas e a mostarda de Dijon. Enfim, ficar-se-ia muito tempo falando das grandes relíquias alimentares da França, que possibilitam a melhor cozinha do mundo. Desta forma, um país que consegue codificar 297 formas de preparar o ovo (com mais de 125 tipos de omelete), faz a história no campo da gastronomia.

Nos últimos tempos a cozinha francesa tem começado uma nova diversificação: Há cozinheiros como Alan Passard que abandonou a cozinha das carnes e se concentra numa alta gastronomia de legumes, onde o legume é o alimento principal, como as beringelas da Bretanha, que é o nome do prato principal. Assim como Pierre Gagnaire que joga forte no prato das langustines na manteiga de nozes.

Há uma nova cozinha na França? Em recente evento em Tours/França, intitulado "Novas Tendências Culinárias" (5) foi constatada a realidade de que não há como abstrair as influências da cozinha molecular na culinária francesa. De qualquer maneira, desta resistência da nouvelle cuisine face às inovações da cozinha contemporânea, quem ganha é a clientela,
ávida pela boa comida.

Referências Bibliográficas

(1)
SEVCENKO, Nicolau. A síndrome da vaca cega. S.
Paulo: Carta Capital, 24/jan/2001, p. 73.
(2)
História da Alimentação/ sob a Direção de Jean-Louis
Flandrin & Massimo Montanari. S. Paulo: Estação
Liberdade, 1998, p. 755.
(3)
SPANG, Rebecca L. A Invenção do Restaurante. Rio de
Janeiro: Record, 2003, p. 27.
(4)
LORENÇATO, A. E a democracia do paladar mudou. S.
Paulo: Gazeta Mercantil, 12/13 out/2002, p.9.
(5)
Forum "Nouvelles Tendances Culinaires". Tours
(França), IEHCA, 02/03 dez/2005.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Luiz Gonzaga




Luiz Lua Gonzaga (Exu, 13 de dezembro de 1912 " Recife, 2 de agosto de 1989) foi um compositor popular brasileiro, conhecido como o "rei do baião". É considerado mestre do cantor Dominguinhos.

Nasceu na fazenda Caiçara, no sopé da Serra de Araripe, na zona rural de Exu, sertão de Pernambuco. O lugar seria revivido anos mais tarde em "Pé de Serra", uma de suas primeiras composições. Seu pai, Januário, trabalhava na roça, num latifúndio, e nas horas vagas tocava acordeão (também consertava o instrumento). Foi com ele que Luiz Gonzaga aprendeu a tocá-lo. Não era nem adolescente ainda, quando passou a se apresentar em bailes, forrós e feiras, de início acompanhando seu pai. Autêntico representante da cultura nordestina, manteve-se fiel às suas origens mesmo seguindo carreira musical no sul do Brasil. O gênero musical que o consagrou foi o baião. A canção emblemática de sua carreira foi Asa Branca, que compôs em 1947, em parceria com o advogado cearense Humberto Teixeira.

Antes dos dezoito anos, ele se apaixonou por Nazarena, uma moça da região e, repelido pelo pai dela, o coronel Raimundo Deolindo, ameaçou-o de morte. Januário e Santana lhe deram uma surra por isso. Revoltado, Luiz Gonzaga fugiu de casa e ingressou no exército em Crato, Ceará. A partir dali, durante nove anos ele viajou por vários estados brasileiros, como soldado. Em Juiz de Fora-MG, conheceu Domingos Ambrósio, também soldado e conhecido na região pela sua habilidade como acordeonista. Dele, recebeu importantes lições musicais.

Em 1939, deu baixa do Exército no Rio de Janeiro, decidido a se dedicar à música. Na então capital do Brasil, começou por tocar na zona do meretrício. No início da carreira, apenas solava acordeão (instrumentista), tendo choros, sambas, fox e outros gêneros da época. Seu repertório era composto basicamente de músicas estrangeiras que apresentava, sem sucesso, em programas de calouros. Até que, no programa de Ary Barroso, ele foi aplaudido executando Vira e Mexe (A primeira música que gravou em 78 rpm; disco de 78 rotações por minuto), um tema de sabor regional, de sua autoria. Veio daí a sua primeira contratação, pela Rádio Nacional.

Em 11 de abril de 1945, Luiz Gonzaga gravou sua primeira música como cantor, no estúdio da RCA Victor: a mazurca Dança Mariquinha em parceria com Saulo Augusto Silveira Oliveira.

Também em 1945, uma cantora de coro chamada Odaléia Guedes deu à luz um menino, no Rio. Luiz Gonzaga tinha um caso com a moça - iniciado provavelmente quando ela já estava grávida - e assumiu a paternidade do rebento, adotando-o e dando-lhe seu nome: Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior. Gonzaguinha foi criado pelos seus padrinhos, com a assistência financeira do artista.

Em 1948, casou-se com a pernambucana Helena Cavalcanti, professora que tinha se tornado sua secretária particular. O casal viveu junto até perto do fim da vida de "Lua". E com ela teve outro filho que Lua a Chamava de Rosinha.

Gonzaga sofria de osteoporose. Morreu vítima de parada cárdio-respiratória no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana. Seu corpo foi velado em Juazeiro do Norte e posteriormente sepultado em seu município natal. Sua música mais famosa é Asa Branca
Índice

Sucessos
- A dança da moda, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1950)
- A feira de Caruaru, Onildo Almeida (1957)
- A letra I, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1953)
- A morte do vaqueiro, Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho (1963)
- A triste partida, Patativa do Assaré (1964)
- A vida do viajante, Hervé Cordovil e Luiz Gonzaga (1953)
- Acauã, Zé Dantas (1952)
- Adeus, Iracema, Zé Dantas (1962)
- Á-bê-cê do sertão, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1953)
- Adeus, Pernambuco, Hervé Cordovil e Manezinho Araújo (1952)
- Algodão, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1953)
- Amanhã eu vou, Beduíno e Luiz Gonzaga (1951)
- Amor da minha vida, Benil Santos e Raul Sampaio (1960)
- Asa-branca, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1947)
- Assum-preto, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1950)
- Ave-maria sertaneja, Júlio Ricardo e O. de Oliveira (1964)
- Baião, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1946)
- Baião da Penha, David Nasser e Guio de Morais (1951)
- Beata Mocinha, Manezinho Araújo e Zé Renato (1952)
- Boi bumbá, Gonzaguinha e Luiz Gonzaga (1965)
- Boiadeiro, Armando Cavalcanti e Klécius Caldas (1950)
- Cacimba Nova, José Marcolino e Luiz Gonzaga (1964)
- Calango da lacraia, Jeová Portela e Luiz Gonzaga (1946)
- O Cheiro de Carolina, - Sua Sanfona e Sua Simpatia - Amorim Roxo e Zé Gonzaga (1998)
- Chofer de praça, Evaldo Ruy e Fernando Lobo (1950)
- Cigarro de paia, Armando Cavalcanti e Klécius Caldas (1951)
- Cintura fina, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1950)
- Cortando pano, Jeová Portela, Luiz Gonzaga e Miguel Lima (1945)
- Dezessete légua e meia, Carlos Barroso e Humberto Teixeira (1950)
- Feira de gado, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1954)
- Firim, firim, firim, Alcebíades Nogueira e Luiz Gonzaga (1948)
- Fogo sem fuzil, José Marcolino e Luiz Gonzaga (1965)
- Fole gemedor, Luiz Gonzaga (1964)
- Forró de Mané Vito, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1950)
- Forró de Zé Antão, Zé Dantas (1962)
- Forró de Zé do Baile, Severino Ramos (1964)
- Forró de Zé Tatu, Jorge de Castro e Zé Ramos (1955)
- Forró no escuro, Luiz Gonzaga (1957)
- Fuga da África, Luiz Gonzaga (1944)
- Hora do adeus, Luiz Queiroga e Onildo Almeida (1967)
- Imbalança, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1952)
- Jardim da saudade, Alcides Gonçalves e Lupicínio Rodrigues (1952)
- Juca, Lupicínio Rodrigues (1952)
- Lascando o cano, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1954)
- Légua tirana, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1949)
- Lembrança de primavera, Gonzaguinha (1964)
- Liforme instravagante, Raimundo Granjeiro (1963)
- Lorota boa, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1949)
- Moda da mula preta, Raul Torres (1948)
- Moreninha tentação, Sylvio Moacyr de Araújo e Luiz Gonzaga (1953)
- No Ceará não tem disso, não, Guio de Morais (1950)
- No meu pé de serra, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1947)
- Noites brasileiras, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1954)
- Numa sala de reboco, José Marcolino e Luiz Gonzaga (1964)
- O maior tocador, Luiz Guimarães (1965)
- O xote das meninas, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1953)
- Ô véio macho, Rosil Cavalcanti (1962)
- Obrigado, João Paulo, Luiz Gonzaga e Padre Gothardo (1981)
- O fole roncou, Luiz Gonzaga e Nelson Valença (1973)
- Óia eu aqui de novo, Antônio Barros (1967)
- Olha pro céu, Luiz Gonzaga e Peterpan (1951)
- Ou casa, ou morre, Elias Soares (1967)
- Ovo azul, Miguel Lima e Paraguaçu (1946)
- Padroeira do Brasil, Luiz Gonzaga e Raimundo Granjeiro (1955)
- Pão-duro, Assis Valente e Luiz Gonzaga (1946)
- Pássaro carão, José Marcolino e Luiz Gonzaga (1962)
- Pau-de-arara, Guio de Morais e Luiz Gonzaga (1952)
- Paulo Afonso, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1955)
- Pé de serra, Luiz Gonzaga (1942)
- Penerô xerém, Luiz Gonzaga e Miguel Lima (1945)
- Perpétua, Luiz Gonzaga e Miguel Lima (1946)
- Piauí, Sylvio Moacyr de Araújo (1952)
- Piriri, Albuquerque e João Silva (1965)
- Quase maluco, Luiz Gonzaga e Victor Simon (1950)
- Quer ir mais eu?, Luiz Gonzaga e Miguel Lima (1947)
- Quero chá, José Marcolino e Luiz Gonzaga (1965)
- Padre sertanejo, Helena Gonzaga e Pantaleão (1964)
- Respeita Januário, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1950)
- Retrato de Um Forró,Luiz Ramalho e Luiz Gonzaga (1974)
- Riacho do Navio, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1955)
- Sabiá, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1951)
- Sanfona do povo, Luiz Gonzaga e Luiz Guimarães (1964)
- Sanfoneiro Zé Tatu, Onildo Almeida (1962)
- São-joão na roça, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1952)
- Siri jogando bola, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1956)
- Vem, morena, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1950)
- Vira-e-mexe, Luiz Gonzaga (1941)
- Xanduzinha, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1950)
- Xote dos cabeludos, José Clementino e Luiz Gonzaga (1967)

BAIÃO "PARAÍBA" SURGE EM 1950
Miho Hatori canta "Paraíba", sucesso de Luiz Gonzaga, em japonês.

Um dos maiores sucessos de Humberto Teixeira é sem dúvida o baião "Paraíba", de 1950, originalmente jingle de campanha do candidato a senador José Pereira Lira. Este não é o famoso de Princesa Isabel, embora a bravura daquele José Pereira seja evocada no célebre baião que tem projetado a Paraíba lá fora mais que as obras dos nossos romancistas e poetas.

Luiz Gonzaga, que só gravaria "Paraíba" em 1952, dois anos depois da gravação original de Emilinha Borba, passou o resto da vida dizendo que este baião é uma homenagem a bravura desta terra e que o seu refrão "mulher macho" não desonra a paraibana.

Luiz Gonzaga

Comemorando os 60 anos de um dos maiores clássicos da música brasileira, o Kukukaya realiza a Semana Especial Asa Branca, com shows e exposição

A lavra de composições em parceria do cearense Humberto Teixeira e do pernambucano Luiz Gonzaga é profícua em clássicos. Do "Baião" inaugural à evocativa "No meu pé de serra", passando pelo lirismo pungente de "Assum preto". Todas canções que ultrapassaram fronteiras geográficas e estéticas para assumir seu lugar de direito no inconsciente coletivo dos brasileiros - são daquelas que todo mundo sabe cantar, ao menos um trechinho, como se desde sempre estivessem presentes.

Uma canção, porém, pende um degrau acima nesse encontro entre o criador popular e a receptividade do público. Para uns, uma melodia recolhida das cantigas de cegos e repentistas, nas feiras nordestinas.

Para outros, um fruto mais direto da sensibilidade do velho Lua e do doutor do baião. Seja como for, "Asa branca" chega a seus 60 anos como clássico definitivo da música brasileira, confirmando-se em constantes releituras, do jazz ao forró, tanto como hino da nação cultural nordestina, quanto como cantiga que, paradoxalmente, percorre caminhos da seca, da dor e da sina, mas inevitavelmente anuncia uma atmosfera de alegria.

O próprio Luiz Gonzaga chegou a declarar que, ao decidir dar uma forma à música em 1947, não tinha muito entusiasmo por "Asa branca": "É muito lenta, cantiga de eito, de apanha de algodão na roça.

Mas Humberto pediu para eu cantar a música, eu cantei e ele me convenceu a fazê-la", registrou, citando que a música teria tido origem em memórias de seu pai, Januário, o homem da sanfona de oito baixos, para melodia adaptada do folclore. "Asa Branca era folclore. Eu toquei isso quando era menino com meu Pai. Mas aí chega Humberto Teixeira e coloca: ´Quando olhei a terra ardendo qual fogueira de São João' e se conclui um trabalho sobre Asa Branca".

Marcando a data em Fortaleza, a casa de shows Kukukaya preparou uma programação que inclui apresentações musicais e uma exposição especial dos discos de Luiz Gonzaga e de outras peças relacionadas a "Asa branca", a cantiga nordestina que, de gênese inequivocamente universal, sempre mostrou vocação para ir além-fronteiras - que o digam performances como a de Hermeto Pascoal e Elis Regina, no Festival de Montreaux, na Suíça, em 1979, ou o registro em inglês feito pelo baiano Raul Seixas, que optou pelo clima country para cantar o lamento de sua "White wings".

Os shows têm início na noite de hoje, com o sanfoneiro e compositor cearense Dorgival Dantas gravando seu primeiro DVD, e seguem amanhã, com o cantor e acordeonista paraibano Flávio José retornando à cidade.

Já no sábado, também no Kukukaya, será aberta uma exposição com todas as capas de discos de Luiz Gonzaga, além de fotos raras, filmes, documentos e de um exemplar do disco de 78 rotações por minuto que traz a primeira gravação de "Asa branca", além da canção "Vou pra roça". As peças fazem parte do acervo do pesquisador e colecionador pernambucano, radicado no Ceará, Paulo Tomaz, também responsável pela manutenção do site www.luizluagonzaga.com.br.

O evento deverá contar também com a presença da atriz Denise Dumont, dando notícia do documentário "O homem que Engarrafava Nuvens", filme que, atualmente em fase de finalização, lançará luz sobre a história de Humberto Teixeira.

Completando a noite, Joquinha Gonzaga, sobrinho de Seu Luiz, faz show musical ao lado do ator e humorista piauiense João Cláudio - notório pela voz extremamente semelhante à do Gonzagão. Festa para os 60 anos de "Asa branca".

DALWTON MOURA
Repórter


60 ANOS DE "ASA BRANCA"

Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Asa Branca, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira (1947)


Um belo dia, o compositor cearense Humberto Teixeira estava no seu escritório de advocacia, na Avenida Calógeras, no Centro do Rio de Janeiro, quando o sanfoneiro pernambucano Luiz Gonzaga o procurou pela primeira vez. Naquela tarde, das quatro horas até meia-noite, os dois discutiram o lançamento da música nordestina no Sudeste, o Baião, e compuseram os primeiros versos daquele que se tornaria o maior sucesso da dupla: Asa Branca. Só dois anos depois, em 3 de março de 1947, a música, que não é baião, mas uma toada, foi gravada pela RCA com o conjunto de Canhoto e lançada em maio daquele ano num disco de 78 RPM com a composição Vou Pra Roça.

No estúdio de gravação, o Rei e o Doutor do Baião tiveram de ouvir uma porção de caçoadas. "Mas, puxa, vocês depois de um negócio desses, de sucessos, vêm cantar moda de igreja, de cego, aqui? Que troço horrível!", diziam os músicos do conjunto. "Mal sabiam eles que nós estávamos gravando ali uma das páginas mais maravilhosas da música brasileira", relatou Humberto Teixeira, em entrevista para o pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, em 1977, publicada no O POVO, em 1994 e em 2000. Eleita pela Academia Brasileira de Letras em 1997 como a segunda canção brasileira mais marcante do século XX, empatada com Carinhoso, o choro que Pixinguinha compôs em 1917, e seguida apenas de Aquarela do Brasil, composta por Ari Barroso em 1939, Asa Branca completa aniversário de 60 anos e ganha homenagem no Espaço Cultural Kukukaya.

A exposição comemorativa, elaborada pelo pesquisador pernambucano radicado no Ceará Paulo Vanderlei Tomaz, reúne todas as capas de álbuns de Luiz Gonzaga, incluindo o disco de cera original da primeira gravação do clássico, fotos, documentos e objetos pessoais de Humberto Teixeira, além de filmes e documentários dos anos 40 e 50, como É com este que eu vou (1948) e E o Mundo Se Diverte (1956), com imagens do velho Lua dançando xaxado. Além da exposição, o evento conta com a participação da filha de Humberto Teixeira, a atriz Denise Dummont, radicada em Nova York, que vai falar do documentário O Homem que Engarrafava Nuvens, produzido por ela e dirigido por Lírio Ferreira, sobre a vida e obra do compositor cearense. Também haverá show do sobrinho de Luiz Gonzaga, Joquinha Gonzaga, e do ator e humorista João Cláudio, considerado um dos melhores imitadores do Rei do Baião.

A epopéia nordestina, segundo catalogação feita pelo pesquisador Paulo Thomaz, que há 18 anos coleciona material sobre Luiz Gonzaga, ganhou pelo menos 380 regravações nacionais e internacionais ao longo dessas seis décadas. "Certamente deve haver mais de 400", calcula o pesquisador. "Eu acho que para o Norte e Nordeste do Brasil essa é a música mais importante que já foi feita. Se o Nordeste fosse um país, Asa Branca seria com certeza o hino", acredita. O pesquisador, que ainda criança conheceu de perto Luiz Gonzaga, em Exu, Pernambuco, terra natal do músico, é dono do site Luiz "Lua" Gonzaga (luizluagonzaga.com.br), que reúne discos, vídeos, fotos, biografia, entrevistas e uma seção curiosa chamada "Causos do Rei", onde fãs e amigos contam histórias, pontuando a personalidade forte de "cabra macho", mas sempre com um jeitão muito amigo e afetuoso.

Para o pesquisador Nirez, o motivo de tanto sucesso para Asa Branca tem, entre outras explicações, o modismo em torno da música de origem sertaneja, que havia tido momentos de pico em 1922, com o conjunto Turunas Pernambucanos, e em 1928, com Turunas da Mauricéia, e foi retomado nos anos 1940. (...)

Fonte: opovo

Extraído do blog www.onordeste.com

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um ABC diferente




Investimentos e novos empreendimentos podem transformar Suape em um polo tão rico quanto o da região paulista. O momento econômico não poderia ser melhor

Micheline Batista
michelinebatista.pe@dabr.com.br

Muito já se comparou o crescimento do Complexo Industrial Portuário de Suape ao de outros polos de desenvolvimento do Brasil, como Camaçari (BA) e Macaé (RJ).
Central de distribuição da GM é o embrião de um polo automobilístico . Foto: Alcione Ferreira/DP/D.A Press - 4/6/10
Por que não comparar também com a região do ABC Paulista? Não estamos falando mais de um ou dois municípios (Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho), mas de um território que abraça oito cidades. Assim como o ABC se expandiu e hoje engloba não mais três, mas sete municípios. Claro que são dois polos em estágios econômicos diferentes, surgidos em épocas distintas, mas suas trajetórias se cruzam mais do que se imagina.

Pelo menos um nome o ABC e Suape têm em comum: Louis Joseph Lebret. Em 1954, o padre francês, que era economista e engenheiro especialista em portos, esteve em Pernambuco quando Suape nem existia. Mas, de forma visionária, disse que o estado deveria abrigar uma refinaria de petróleo. Ao mesmo tempo, em São Paulo, Lebret sugeria ao governo paulista a integração do desenvolvimento social ao econômico através da desconcentração e interiorização dos investimentos. Surgia a região do ABC. Tinha como principal símbolo a montadora da Volkswagen, em São Bernardo do Campo.

Construção de uma refinaria de petróleo foi recomendada pelo padre Louis Joseph Lebret na década de 1950. Foto: Inês Campelo/Dp/D.A Press - 5/4/10
Mais de meio século depois, o ABC Paulista é um polo industrial maduro, enquanto que Suape, criado em 1979 e tendo atravessado 11 governos, ainda engatinha. Para se ter uma ideia, o Produto Interno Bruto (PIB) do Grande ABC, de R$ 63,65 bilhões, é maior do que a soma de todas as riquezas produzidas em Pernambuco (R$ 62,25 bilhões). "Estamos hoje com um projeto ainda incipiente, enquanto que o ABC tem uma estrutura muito madura. Mas que pode crescer e se transformar em algo semelhante daqui a 20 ou 30 anos", diz o presidente da consultoria Datamétrica, Alexandre Rands.

O que Suape vive hoje o ABC viveu na década de 1950 - pesados investimentos públicos e privados, facilidades no transporte e incentivos fiscais, o que fez emergir setores como o automobilístico, metalúrgico, mecânico, químico, petroquímico, autopeças e material elétrico em torno de três municípios - Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul. Nos anos 1970, o maior polo industrial do país se expandiu embalado pelo chamado milagre econômico.

Momento - Suape parece viver as duas ondas simultaneamente, o que pode encurtar em cerca de 20 anos a distância em relação a seu primo paulista. O momento econômico não poderia ser melhor. Pernambuco cresceu 3,8% em 2009, enquanto que o Nordeste evoluiu apenas 2,6% e o Brasil encolheu 0,2%. No primeiro trimestre do ano, a expansão do PIB alcançou 7,8% no estado. Dados do relatório PAC Suape revelam que os investimentos públicos devem chegar a R$ 1,4 bilhão no período 2007-2010, alcançando US$ 15 bilhões na área privada este ano. São cerca de 100 empresas, entre elas a Refinaria Abreu e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul, o Polo Petroquímico e uma central de distribuição da General Motors (GM) - o embrião do que poderá vir a ser o polo automobilístico pernambucano.

Se Pernambuco já está sendo chamado de locomotiva do Nordeste, Suape certamente é a locomotiva de Pernambuco. O Território Estratégico concentra 23,49% do PIB estadual, número que deve subir para 25% em cinco anos. Ipojuca, por sua vez, ostenta o título de maior PIB per capita do estado - R$ 76.418. Números importantes, mas que não deixam de inspirar cuidados. "Para transformar PIB em renda, as empresas de Suape precisam contratar mão de obra local e comprar de empresas pernambucanas. Do contrário, essa riqueza será exportada", alerta o sócio-diretor da Consultoria Econômica e Planejamento (Ceplan), Jorge Jatobá.

Território Ampliado de Suape

Perfil dos municípios

Moreno

Principais indústrias: construção civil; alimentícios, bebidas e álcool etílico; têxtil do vestuário e artefatos de tecidos; madeira e mobiliário; e os SIUP
PIB: R$ 207,5 milhões
PIB per capita: R$ 3.928
Participação no PIB de PE: 0,33%

Cabo de Santo Agostinho

Principais indústrias: produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico; minerais não metálicos; química; metalúrgica; têxtil do vestuário e artefatos de tecidos; e os SIUP (*)
PIB: R$ 2,81 bilhões
PIB per capita: R$ 17.244
Participação no PIB de PE: 4,52%

Escada

Principais indústrias: construção civil; bebidas; produtos de metal; têxtil; e química
PIB: R$ 233,5 milhões
PIB per capita: R$ 3.897
Participação no PIB de PE: 0,38%

Ribeirão

Principais indústrias: alimentícia (açúcar); construção civil
PIB: R$ 145 milhões
PIB per capita: R$ 3.743
Participação no PIB de PE: 0,23%

Jaboatão dos Guararapes

Principais indústrias: produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico; química (produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria, sabão, velas e material plástico); metalúrgico; material elétrico e de comunicações; papel, papelão; editorial e gráfica
PIB: R$ 5,57 bilhões
PIB per capita: R$ 8.384
Participação no PIB de PE: 8,96%

Ipojuca

Principais indústrias: produtos alimentícios; bebidas e álcool etílico; química; papel e papelão; têxtil do vestuário e artefatos de tecidos; minerais não metálicos; e os SIUP (termelétrica)
PIB: R$ 5,35 bilhões
PIB per capita: R$ 76.418 (o maior de PE)
Participação no PIB de PE: 8,60%

Serinhaém

Principais indústrias: produtos alimentícios (açúcar)
PIB: R$ 166 milhões
PIB per capita: R$ 4.561
Participação no PIB de PE: 0,27%

Rio Formoso

Principais indústrias: produtos alimentícios (açúcar)
PIB: R$ 128,39 milhões
PIB per capita: R$ 6.104
Participação no PIB de PE: 0,21%

PIB do território ampliado de Suape R$ 14,62 bilhões
Participação no PIB de PE 23,49%
PIB de PE R$ 62,25 bilhões
PIB per capita de PE - R$ 7.337

(*) SIUP - Serviços Industriais de Utilidade

Pública (energia elétrica, telecomunicações, saneamento, abastecimento de água e coleta de lixo).

Obs: Ano de referência do PIB - 2007 (preços de mercado)

Fonte: Agência Condepe/Fidem - Governo de PE

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Turismo é um diferencial

Há semelhanças entre a região de Suape e o Grande ABC, mas também há diferenças. O ABC é eminentemente industrial. O Território Estratégico Ampliado de Suape, além de indústrias, abriga um forte setor de comércio e serviços, incluindo o diferencial da atividade turística. Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca possuem praias conhecidas, como Gaibu, Muro Alto e Porto de Galinhas, além de uma razoável infraestrutura hoteleira e de gastronomia.

Alguns economistas entendem que o turismo deve apoiar a expansão industrial, oferecendo moradia, serviços de hospedagem e alimentação. "Estão desprezando essa possibilidade", opina Alexandre Rands. A indústria, por sua vez, deve respeitar o meio ambiente para que não corramos o risco de afugentar turistas com acidentes como o vazamento de óleo que atingiu o litoral do Rio no início do mês. É bom lembrar que, a partir de 2012, Suape receberá muitos petroleiros para abastecer a Refinaria Abreu e Lima.

Luciano Pinto, diretor executivo de Apoio à Gestão Regional e Metropolitana daAgência Condepe/Fidem, lembra que o Recife e Jaboatão dos Guararapes sempre tiveram uma vocação natural para o setor terciário. Jaboatão, por exemplo, é o principal parque logístico do estado. Sem falar na tradicional atividade sucroalcooleira da Mata Sul. "As demais atividades não acabarão por causa de Suape. Pelo contrário. O setor de serviços deve se expandir mais para atender às novas demandas".

Em São Paulo, o grosso do comércio e dos serviços estava na capital, grande centro consumidor. Em relação ao polo pernambucano, o centro não é o Recife ou apenas o Nordeste. "As indústrias de Suape não estão voltadas para toda a região, o Brasil e, em alguns casos, o exterior", pontua Rands. (M.B.)

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É preciso mudar a lógica


Para que Suape e os municípios de seu entorno não sofram tanto com as mazelas urbanas, sociais e ambientais que costumamos ver no ABC, em Camaçari e em Macaé, será necessário que os governos (estadual e municipais) se unam numa estratégia que oriente a expansão e o ordenamento desse território. Algumas ações foram sugeridas no Plano Território Estratégico de Suape - Diretrizes para uma ocupação sustentável, estudo coordenado pela Agência Condepe/Fidem iniciado em 2006. Mas é preciso avançar mais.

"Além daqueles que vão conseguir uma oportunidade de trabalho, teremos aqueles excluídos que não vão se encaixar. Isso já está ocorrendo e vai gerar um impacto grande na ocupação desse território. A gente não quer ser Macaé, Camaçari nem ABC. O que a gente quer é um crescimento sustentado. É preciso mudar essa lógica", dispara a gestora de Estudos Metropolitanos da Condepe/Fidem, Antonia Santamaria.

O plano coordenado pela Condepe/Fidem tem entre seus eixos temáticos a organização do território (incluindo o patrimônio natural e construído), mobilidade e saneamento ambiental, compreendendo abastecimento d'água, esgotamento sanitário, drenagem e lixo. Na área da mobilidade, por exemplo, foram destacados projetos que somam R$ 923 milhões, entre eles a requalificação da PE-60 e sua duplicação entre Suape e a divisa com Alagoas.

"Temos problemas pontuais que precisam de uma solução imediata. Como colocar, por exemplo, 20 mil pessoas trabalhando em Suape no pico das obras da refinaria? Vamos jogar todo esse tráfego para a PE-60? Mesmo duplicada, ela não irá suportar. Precisamos da via rápida correndo paralela à PE-60 e caindo direto no girador da Caninha 51", acrescenta Luciano Pinto, da Agência Condepe/Fidem. O investimento necessário em transporte público foi estimado em R$ 975 milhões e inclui, entre outros projetos, a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) entre Cajueiro Seco e Suape.

O cenário que se projeta é preocupante. Basta imaginar que, daqui a dez anos, Suape estará produzindo não apenas PET como também PTA, fios de poliéster, refinando petróleo e ainda fabricando navios. Outro projeto que ganha importância, portanto, é a implantação de um anel viário ligando a PE-60 à BR-101 e esta à BR-232, livrando o Recife do tráfego mais pesado. "Toda essa infraestrutura já deveria estar em execução. Se demorar muito vai ficar cada vez mais difícil contornar os problemas", critica o economista Alexandre Rands.

Segundo Santamaria, a maioria das cidades do território são ilhas rodeadas de canaviais e não tem mais para onde crescer. A saída, para não criar novas áreas de risco em morros e margens de rios, é expandir os centros urbanos. Será necessário, então, otimizar a ocupação dos espaços para que as cidades funcionem com qualidade em termos de habitação, escolas, hospitais, áreas de lazer e, sobretudo, transporte. (M.B.)

ABC Paulista

Perfil dos municípios

Mauá

Principais indústrias: metalúrgicas; químicas; materiais elétricos; petroquímica

PIB: R$ 5,39 bilhões
PIB per capita: R$ 13.394
Participação no PIB de SP: 0,59%

São Caetano do Sul

Principais indústrias: automobilísticas
PIB: R$ 9,04 bilhões
PIB per capita: R$ 62.458
Participação no PIB de SP: 1,00%

Diadema

Principais indústrias: autopeças; cosméticos
PIB: R$ 8,65 bilhões
PIB per capita: R$ 22.371
Participação no PIB de SP: 0,95%

Ribeirão Pires

PIB: R$ 1,35 bilhão
PIB per capita: R$ 12.660
Participação no PIB de SP: 0,15%

Rio Grande da Serra

PIB: R$ 310 milhões
PIB per capita: R$ 7.895
Participação no PIB de SP: 0,03%

Santo André

Principais indústrias: metalúrgicas; autopeças; refrigeração; eletroeletrônicos; borracha

PIB: R$ 13,38 bilhões
PIB per capita: R$ 20.044
Participação no PIB de SP: 1,48%

São Bernardo do Campo

Principais indústrias: automobilísticas; autopeças; tintas; produtos de higiene

PIB: R$ 25,53 bilhões
PIB per capita: R$ 32.677
Participação no PIB de SP: 2,82%

PIB do ABC Paulista R$ 63,65 bilhões
Participação no PIB de SP - 7,02%
PIB de SP - R$ 902,78 bilhões
PIB per capita de SP - R$ 22.667

Obs: Ano de referência do PIB - 2007 (preços de mercado)

Fonte: Fundação Seade/Governo de SP

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Preocupação com o social e o ambiente


Suape tem outra particularidade em relação a outros polos industriais - sua consolidação ocorre numa época de grandes preocupações com os indicadores socioambientais. Antes, não havia as exigências do licenciamento ambiental nem tanto planejamento urbano. As empresas simplesmente se instalavam e traziam todas as mazelas a reboque. Em Macaé, a questão urbana há muito fugiu do controle porque a população aumentou de 20 mil para 200 mil habitantes em poucas décadas.

Apesar do planejamento, a expansão dos centros urbanos dos municípios do entorno de Suape esbarra numa realidade: as prefeituras são carentes e não possuem estrutura administrativa para gerir esse crescimento. Por isso, o plano coordenado pela Condepe/Fidem traz em seu guarda-chuva o Programa Especial de Controle Urbano e Ambiental. Mas ainda falta o BNDES aportar os R$ 11 milhões prometidos.

"É um recurso diminuto em relação a outros investimentos, porém essencial para capacitar as prefeituras e construir um sistema de informações cartográficas georreferenciadas", defende a gestora de Estudos Metropolitanos da Condepe/Fidem, Antonia Santamaria. A pressão é grande, especialmente neste momento em que muitos municípios estão refazendo seus planos diretores para poder receber empreendimentos. Sobretudo Moreno e Escada, inseridos no projeto Suape Global, que visa transformar a região num polo provedor de bens e serviços para as áreas de petróleo, gás, naval e offshore - as novas vocações econômicas de Pernambuco.

Outra questão é cuidar da empregabilidade dos cidadãos. Ipojuca, o terceiro maior PIB do estado e o maior per capita, tem um nível de escolaridade igual ao de um município como Araçoiaba. Para formar mão de obra para o Estaleiro Atlântico Sul, por exemplo, foi necessário promover um reforço escolar de português, matemática e raciocínio lógico para 5 mil pessoas. Tanto o Suape Global quanto o reforço são tentativas de transformar PIB em renda, conforme explicou anteriormente o economista Jorge Jatobá.

Para o diretor de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas da Agência Condepe/Fidem, Rodolfo Guimarães, só o crescimento do PIB não basta. Tem que haver desenvolvimento social e distribuição de renda, afinal, o PIB per capita é uma ficção. "Não queremos que essa região aumente sua participação no PIB fazendo crescer também as externalidades", (M.B.)

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Saiba mais


Camaçari (BA)

O polo industrial começou a ser implantado em 1978, tendo a Copene (atual Braskem) como carro-chefe do segundo polo petroquímico do país (o primeiro foi Capuava-SP). O polo abriga ainda a única montadora de veículos do Norte/Nordeste - a Ford - e empresas como Bridgestone Firestone, Caraíba Metais, Continental Pneus, Discobrás, Bahia Pulp, Monsanto, Columbian Chemicals, Peroxi Bahia, entre outras.

Ao longo de sua história, o polo de Camaçari recebeu investimentos superiores a US$ 11 bilhões. Gera cerca 35 mil empregos, sendo 15 mil diretos e 20 mil indiretos. O município possui o maior PIB industrial do Nordeste e o segundo maior da Bahia. Apesar disso, a distribuição de renda nunca foi uma realidade. Camaçari tem um IDH de 0,734, considerado médio.

Macaé (RJ)

Nos anos 1970, Macaé era apenas uma vila de pescadores quando a Petrobras decidiu instalar ali sua base para explorar petróleo na Bacia de Campos. Hoje são 45 plataformas e 30 mil profissionais nas unidades marítimas para umaprodução que em 2009 atingiu 1.750 barris diários de óleo.

Em função do desenvolvimento dessa indústria, especialmente a partir de 1997 (abertura do mercado), a economia da cidade cresceu nada mais, nada menos que 600% em dez anos. Seu PIB per capita, de R$ 36 mil, é 200% maior do que a média nacional. Seu IDH, porém, não evoluiu na mesma proporção - é de 0,79. Reflexo, sobretudo, da imigração de pessoas em busca de trabalho. Como nem todos encontram, acabam ajudando a aumentar o tamanho e a quantidade de favelas.