quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Brasil precisa crescer mais com crédito privado, diz presidente do BNDES.


Brasil precisa crescer mais com crédito privado, diz presidente do BNDES.
Reuters/Brasil Online



SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil precisa elevar sua taxa de investimento para garantir um crescimento anual sustentado acima de 5% e o governo prepara medidas para que o setor privado tenha uma participação maior no financiamento de longo prazo já a partir de 2011, disse o presidente do BNDES.

Segundo Luciano Coutinho, a taxa que hoje gira em torno de 19% do PIB, precisa subir para algo em torno de 23% a 24%, sem que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social amplie sua participação nos empréstimos.

- Nossa (expectativa) é que todo incremento possa ser financiado pelo setor privado - afirmou durante entrevista no Reuters Brazil Investment Summit nesta segunda-feira, acrescentando que o banco está pronto para anunciar medidas nesse sentido.

Coutinho disse que o BNDES é hoje o "único financiador de longo prazo", mas mudanças sobre impostos e depósitos compulsórios podem ajudar a criar as condições para que o setor privado aumente seus financiamentos.

Poderiam ser concedidos benefícios fiscais para o investidor que o incentivassem a procurar aplicações de prazos mais longos, em detrimento dos papéis vinculados à Selic.

Os comentários ocorrem em meio a críticas de parte do mercado que vê um excesso do BNDES em sua ofensiva iniciada em 2008 para tentar conter os efeitos da crise, e que isso poderia causar distorções na economia.

Desde 2009, o governo já repassou cerca de R$ 200 bilhões em empréstimos ao BNDES para aumentar a capacidade do banco de conceder empréstimos.

Os investimentos de longo prazo no país mapeados pelo BNDES consumiram cerca de R$ 1 trilhão no período 2006-2009, disse, e esta conta deve subir para cerca de R$ 1,6 trilhão entre 2011 e 2014. Os desembolsos do BNDES, contudo, devem parar de crescer. Para 2011, a estimativa de Coutinho é de que o banco ofereça um volume de financiamento similar ao deste ano, de cerca de R$ 146 bilhões.

Presidente do BNDES desde 2007, Coutinho tem sido frequentemente citado como um dos prováveis membros do atual governo que permaneceriam com Dilma Rousseff, mas o banqueiro disse que ainda não foi consultado a respeito.

O eventual aprofundamento da apreciação do real frente ao dólar pode ter como consequência o esvaziamento em setores da indústria nacional, à medida que parte do processo produtivo passa a ser feita no exterior, disse ele.

- Permitir que a apreciação persista e se aprofunde é um coisa negativa para a economia - disse. - As importações em manufaturados estão se acentuando em vários setores.

Para Coutinho, algumas das ferramentas que devem ser usadas para amortecer os efeitos negativos desse quadro é reduzir os fatores de ineficiência da economia doméstica, como na infraestrutura, além de medidas tributárias, como a eliminação de incentivos hoje concedidos Estados para importações.

- Vários Estados no Brasil têm dado incentivos criando verdadeiros corredores de importação - argumentou.

Boa parte do incremento das inversões deve ser dirigida para infraestrutura, setor que segundo Coutinho será um dos principais desafios do próximo governo e que segundo ele deve ter alta prioridade por Dilma Rousseff.

- A presidente eleita vai dedicar atenção grande à logística brasileira - afirmou.

Para Coutinho, o segmento aeroportuário "tem um gargalo sério", mas considerou que o problema deve ser equacionado em tempo hábil para os grandes eventos esportivos que o país vai sediar nos próximos anos.

Além de seis arenas para a Copa de 2014 que já tiveram os projetos aprovados pelo BNDES, outras estão em análise. Além disso, deficiências na áreas de transporte e hotelaria já estão sendo resolvidas.

- Eu não vejo grandes problemas - afirmou.

O presidente do BNDES avalia que, além de aumentar significativamente a taxa de investimentos, impedir a continua valorização do real e enfrentar os problemas de infraestrutura, o país tem outros desafios importantes à frente.

Entre eles, melhorar a formação de mão de obra e sustentar o desenvolvimento regional e o processo de distribuição de renda. E conseguir tudo isso, acrescentou, com condições macroeconômicas estáveis.

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